sexta-feira, 22 de outubro de 2010

School of Rock

Música nas escolas é algo muito mais comum nas culturas estrangeiras, como em países da Europa e nos Estados Unidos. É o que comprova a brasileira Juliana B. que atualmente vive no exterior, mãe de Júlia que tem 11 anos: "A Júlia já fez aula de balé, natação, aprendeu noções básicas de culinária e já cantou no coral da escola e da igreja. O sistema no Brasil não me permitiria dar essas oportunidades para a minha filha, é tudo muito caro enquanto lá quase todas essas atividades são praticadas na escola, sem nenhum custo adicional".

Aqui no Brasil, a escola de idiomas Wizard de Belo Horizonte, teve a iniciativa de tentar trazer essa cultura para os seus alunos, montando parcerias para a criação de uma escola de música. A School of Rock, que "morou" durante um ano dentro da Wizard é hoje um projeto independente, mas mantém parceria com a escola de idiomas.

Marcelo Machado é músico e um dos sócios da School. Exaltando o bom humor costumeiro de pessoas que tem contato com a arte, Marcelo supõe que o ensino da música nas escolas será como o ensino de idiomas: "Eu penso que a música será como isso (idiomas), mas eu ainda acho uma boa porque, pelo menos faz as pessoas terem um primeiro contato com a música. Não acho que ninguem vai sair um grande instrumentista só com a música da escola, como também ninguem sai falando inglês com esse inglês que se aplica na escola. E acho que o objetivo de música na escola é uma noção para a pessoa entender o que é música, acho isso legal."

Marcelo e aluno
Há 15 anos, Marcelo dá aulas de música e acredita que implementação de música nas escolas é algo que será positivo para os alunos e para a sociedade. Ele conta que as gerações anteriores, que ainda tinha o ensino da música na escola, formam um grupo bem mais afinado e que conhece melhor a música. A crítica recaí sobre a retirada da disciplina da grade escolar que, de acordo com o que acredita o músico, fez com as gerações fossem crescendo cada vez mais "anti-musicais" e isso tem refletido na baixa qualidade da música atual.

Além de ser uma forma de agregar cultura aos estudantes, a música nas escolas trará outros benefícios: "acho que as escolas de música acabam ganhando com isso também, porque desperta o interesse daquelas pessoas por música e ajuda até mesmo os professores particulares, as escolas de música, enfim, alguém que ensine mesmo a música", explica.

Outra escola de idiomas, o Centro Cultural TFLA, também agrega a música ao seu ensino. Durante o primeiro semestre do ano, os alunos que se interessarem podem ter aulas de bateria na própria escola, com o intuito de se apresentarem no festival realizado anualmente. Além dessas aulas, os alunos do TFLA montam peças de teatro para serem apresentadas, tudo em inglês ou espanhol.

Teatro TFLA
De acordo com Jonas Alves, que trabalha no TFLA, a ideia na escola também era a de trazer um pouco da cultura americana para os alunos. Os teatros aconteciam com mais frequência, o que acabou se tornando inviável devido ao aumento de alunos na escola. "Aqui a gente busca também formas de usar a música no processo de aprendizagem porque deixa o exercício mais interessante. São escolhidas músicas apropriadas para cada nível e os alunos aprendem vocabulário e pronúncia cantando", completa.

Nesse ano, devido à Copa do Mundo, o TFLA resolveu premiar os alunos. Um concurso foi feito e os mais criativos na interpretação de uma das músicas que foi tema da Copa ganharam camisas oficiais da Seleção Brasileira. 

O filme
O nome School of Rock não é por acaso. Além de ter influência do seu local de surgimento - a escola de idiomas - a escola de música foi batizada dessa forma depois que os proprietários assistiram o filme que leva o mesmo nome, estrelado por Jack Black. "Primeiro a gente viu o filme, achou muito divertido e gostou muito da proposta da escola. Uma escola mais solta, uma escola sem muito formalismo e também porque começou dentro da Wizard. A gente era um projeto dentro da escola, para os alunos da Wizard, ai já pegou o gancho do filme com o inglês. O School of Rock então foi uma coisa mais ou menos natural. Só que a escola começou a crescer, já tinha uns 20 ou 30 alunos lá dentro da Wizard, começou a dar trabalho para os professores inglês, reclamando do barulho da guitarra na sala, do saxofone e dos outros instrumentos, então a gente resolveu fazer uma sede própria e se desvinculou. A gente ainda tem uma parceria, mas agora a escola não é mais uma escola da Wizard como era antes", conta Marcelo.

Banda Concreto
 



A banda Concreto, da qual Marcelo Machado é integrante surgiu em 1992. Dez anos depois, participou do Pop Rock Brasil ao lado de bandas como Tianastácia, Skank e Charlie Brow Jr.

 Fotos

 
 Bateria para os grandes


Brinquedos para os pequenos


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Green Day
Nesse fim de semana, alunos e professores do Centro Cultural TFLA estarão realizando o 4º Green Day do TFLA. Há quatro anos, a escola realiza esse evento no qual são plantadas 200 mudas de árvores. Esse ano, o plantio será realizado em frente ao Parque Ecológico da Pampulha.
É sábado, 23/10, das 10h às 13h.
Aberto ao público.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A música fez a diferença

"Eu acredito que a música é importante para o desenvolvimento social da pessoa, e em um país como o nosso, onde muitas pessoas carecem desse tipo de trabalho, a música pode contribuir bastante", disse Gustavo Lacerda, guitarrista da banda Charlie.
O início do ano letivo de 2011 marca a volta do ensino da música nas escolas brasileiras. De acordo com Hudson Menezes, da Assessoria de Comunicação da Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais, a lei pede que a música seja tema obrigatório nas disciplinas de artes do Ensino Fundamental, mas não impõe muitas regras. Não é necessário, por exemplo, que haja ensino prático da música, a teoria basta.

De acordo com o que disse o professor de música Ricardo Linhares, que trabalha na escola de música San Jazz, a lei não tem favorecido os profissionais diplomados, uma vez que as próprias escolas abriram mão de contratar professores especializados, abrindo espaço para autodidatas ou professores que não tenham formação diplomática.

(Rogério Giordano, para o teatro)
Apesar disso, o ensino da música ainda é considerado válido. É o que diz o estudante Rogério Giordano: "na época de colégio, ainda no fundamental I, eu tinha aulas de música e artes na escola. Com o tempo, tiraram as aulas de música e substituíram pelas aulas de informática. Considerei uma perda terrível. De qualquer forma, tanto as aulas de música quanto as aulas de arte influenciaram muito a minha vida. O contato com a arte que tive desde cedo me influenciou a participar de grupos de teatro." Rogério estudou no Colégio Santa Marcelina de Belo Horizonte e hoje é aluno do curso de Relações Internacionais da Puc Minas e também do curso de Letras da UFMG.

O também estudante de RI da Puc, Christopher Mendonça conta que a música sempre esteve presente em sua vida e que foi um fator relevante para a sua formação como ser humano: "a música é a máxima expressão dos sentimentos humanos. Através das partituras, esse sentimento ultrapassa gerações e nos faz entrar em contato com nós mesmos. A música me fez mais sensível, me ensinou a trabalhar em grupo, a ser persistente." A princípio, a música chegou a Christopher através de seus pais que também são apaixonados por música, mas foi graças ao reforço recebido nas aulas de música na escola, desde o ensino infantil, que a semente plantada pelos pais gerou frutos: "fiz aulas de canto, cantei em importantes corais em Belo Horizonte, inclusive o coral da Puc-MG", disse.

Christopher acredita que a música nas escolas é muito importante porque pode ser tão benéfica para os alunos como foi para ele. Além de se conhecer melhor e aprender a conviver melhor em grupo, Chirs fez amizades e encontrou o seu talento.

O guitarrista Gustavo Lacerda acredita que houvessem aulas de música no seu tempo de colégio poderia ter sido influenciado a começar a estudar música mais cedo e até criado interesse por outros instrumentos ou músicas. "Acredito que poderia ter sido uma vantagem para a minha vida musical, não como guitarrista, mas como músico mesmo", acrescentou.

Com relação ao ensino de música nas escolas, a preocupação de Gustavo é para que a música seja trabalhada de maneira correta: "Não adianta colocar uma matéria com o nome de 'Música' e não trabalhar a música direito com os alunos, dando instrumentos que vão ser apenas brinquedos. A música nas escolas deve ser levada a sério, colocando os alunos em contato com a música. Como a erudita e a popular brasileira que mal são valorizadas por nós brasileiros."

(foto de reco-reco, retirada da internet)
No colégio de Rogério, as aulas de música eram ministradas por uma professora formada em música, mas como ressalta o jovem, os alunos não se adaptaram muito bem a essa cultura: "lembro que muitos colegas não gostavam das aulas, acredito que porque a gente era muito novo e não estávamos acostumados com a disciplina exigida. Ficam também as boas lembranças, nas aulas tivemos contato com instrumentos que não encontramos todos os dias, como o reco-reco".


Tanto Christopher quanto Rogério são jovens que gostam de música e valorizam o contato que tiveram com a música como forma de enriquecer a cultura e também de entretenimento. Gustavo era estudante da faculdade de Música da UEMG no curso de Licenciatura em Educação Musical Escolar, mas não se identificou com o curso e prestará vestibular para o curso de Bacharelado em Música Popular na UFMG. Hoje, trabalha dando aulas particulares de violão e guitarra e tem a banda Charlie, que é cover do Red Hot Chili Peppers.

Além desses jovens, a música também fez a diferença na vida da aposentada Yeda dos Reis. Ela conta que sempre gostou de música, mas que só teve a oportunidade de entrar em um coral depois de adulta: "foi uma experiência fantástica. Estar ali (nas aulas de música do coral) fez com que eu me sentisse mais jovem. E acabei encontrando também uma ótima forma de aliviar o estresse do dia a dia". O contato com a música também trouxe a Yeda novos amigos, que se tornaram também companheiros de viagem e de outros momentos de lazer. "O bom da música é que ela não tem idade. E é ainda melhor para aqueles que poderão começar mais cedo, com essas aulas que os jovens terão nas escolas. Acho ótimo", acrescentou.