"Eu acredito que a música é importante para o desenvolvimento social da pessoa, e em um país como o nosso, onde muitas pessoas carecem desse tipo de trabalho, a música pode contribuir bastante", disse Gustavo Lacerda, guitarrista da banda Charlie.
O início do ano letivo de 2011 marca a volta do ensino da música nas escolas brasileiras. De acordo com Hudson Menezes, da Assessoria de Comunicação da Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais, a lei pede que a música seja tema obrigatório nas disciplinas de artes do Ensino Fundamental, mas não impõe muitas regras. Não é necessário, por exemplo, que haja ensino prático da música, a teoria basta.
De acordo com o que disse o professor de música Ricardo Linhares, que trabalha na escola de música San Jazz, a lei não tem favorecido os profissionais diplomados, uma vez que as próprias escolas abriram mão de contratar professores especializados, abrindo espaço para autodidatas ou professores que não tenham formação diplomática.
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(Rogério Giordano, para o teatro) |
Apesar disso, o ensino da música ainda é considerado válido. É o que diz o estudante Rogério Giordano: "na época de colégio, ainda no fundamental I, eu tinha aulas de música e artes na escola. Com o tempo, tiraram as aulas de música e substituíram pelas aulas de informática. Considerei uma perda terrível. De qualquer forma, tanto as aulas de música quanto as aulas de arte influenciaram muito a minha vida. O contato com a arte que tive desde cedo me influenciou a participar de grupos de teatro." Rogério estudou no Colégio Santa Marcelina de Belo Horizonte e hoje é aluno do curso de Relações Internacionais da Puc Minas e também do curso de Letras da UFMG.
O também estudante de RI da Puc, Christopher Mendonça conta que a música sempre esteve presente em sua vida e que foi um fator relevante para a sua formação como ser humano: "a música é a máxima expressão dos sentimentos humanos. Através das partituras, esse sentimento ultrapassa gerações e nos faz entrar em contato com nós mesmos. A música me fez mais sensível, me ensinou a trabalhar em grupo, a ser persistente." A princípio, a música chegou a Christopher através de seus pais que também são apaixonados por música, mas foi graças ao reforço recebido nas aulas de música na escola, desde o ensino infantil, que a semente plantada pelos pais gerou frutos: "fiz aulas de canto, cantei em importantes corais em Belo Horizonte, inclusive o coral da Puc-MG", disse.
Christopher acredita que a música nas escolas é muito importante porque pode ser tão benéfica para os alunos como foi para ele. Além de se conhecer melhor e aprender a conviver melhor em grupo, Chirs fez amizades e encontrou o seu talento.
O guitarrista Gustavo Lacerda acredita que houvessem aulas de música no seu tempo de colégio poderia ter sido influenciado a começar a estudar música mais cedo e até criado interesse por outros instrumentos ou músicas. "Acredito que poderia ter sido uma vantagem para a minha vida musical, não como guitarrista, mas como músico mesmo", acrescentou.
Com relação ao ensino de música nas escolas, a preocupação de Gustavo é para que a música seja trabalhada de maneira correta: "Não adianta colocar uma matéria com o nome de 'Música' e não trabalhar a música direito com os alunos, dando instrumentos que vão ser apenas brinquedos. A música nas escolas deve ser levada a sério, colocando os alunos em contato com a música. Como a erudita e a popular brasileira que mal são valorizadas por nós brasileiros."
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(foto de reco-reco, retirada da internet) |
No colégio de Rogério, as aulas de música eram ministradas por uma professora formada em música, mas como ressalta o jovem, os alunos não se adaptaram muito bem a essa cultura: "lembro que muitos colegas não gostavam das aulas, acredito que porque a gente era muito novo e não estávamos acostumados com a disciplina exigida. Ficam também as boas lembranças, nas aulas tivemos contato com instrumentos que não encontramos todos os dias, como o reco-reco".
Tanto Christopher quanto Rogério são jovens que gostam de música e valorizam o contato que tiveram com a música como forma de enriquecer a cultura e também de entretenimento. Gustavo era estudante da faculdade de Música da UEMG no curso de Licenciatura em Educação Musical Escolar, mas não se identificou com o curso e prestará vestibular para o curso de Bacharelado em Música Popular na UFMG. Hoje, trabalha dando aulas particulares de violão e guitarra e tem a banda Charlie, que é cover do Red Hot Chili Peppers.
Além desses jovens, a música também fez a diferença na vida da aposentada Yeda dos Reis. Ela conta que sempre gostou de música, mas que só teve a oportunidade de entrar em um coral depois de adulta: "foi uma experiência fantástica. Estar ali (nas aulas de música do coral) fez com que eu me sentisse mais jovem. E acabei encontrando também uma ótima forma de aliviar o estresse do dia a dia". O contato com a música também trouxe a Yeda novos amigos, que se tornaram também companheiros de viagem e de outros momentos de lazer. "O bom da música é que ela não tem idade. E é ainda melhor para aqueles que poderão começar mais cedo, com essas aulas que os jovens terão nas escolas. Acho ótimo", acrescentou.
Ouça aqui: Dani California de Banda Charlie