sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A música fez a diferença

"Eu acredito que a música é importante para o desenvolvimento social da pessoa, e em um país como o nosso, onde muitas pessoas carecem desse tipo de trabalho, a música pode contribuir bastante", disse Gustavo Lacerda, guitarrista da banda Charlie.
O início do ano letivo de 2011 marca a volta do ensino da música nas escolas brasileiras. De acordo com Hudson Menezes, da Assessoria de Comunicação da Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais, a lei pede que a música seja tema obrigatório nas disciplinas de artes do Ensino Fundamental, mas não impõe muitas regras. Não é necessário, por exemplo, que haja ensino prático da música, a teoria basta.

De acordo com o que disse o professor de música Ricardo Linhares, que trabalha na escola de música San Jazz, a lei não tem favorecido os profissionais diplomados, uma vez que as próprias escolas abriram mão de contratar professores especializados, abrindo espaço para autodidatas ou professores que não tenham formação diplomática.

(Rogério Giordano, para o teatro)
Apesar disso, o ensino da música ainda é considerado válido. É o que diz o estudante Rogério Giordano: "na época de colégio, ainda no fundamental I, eu tinha aulas de música e artes na escola. Com o tempo, tiraram as aulas de música e substituíram pelas aulas de informática. Considerei uma perda terrível. De qualquer forma, tanto as aulas de música quanto as aulas de arte influenciaram muito a minha vida. O contato com a arte que tive desde cedo me influenciou a participar de grupos de teatro." Rogério estudou no Colégio Santa Marcelina de Belo Horizonte e hoje é aluno do curso de Relações Internacionais da Puc Minas e também do curso de Letras da UFMG.

O também estudante de RI da Puc, Christopher Mendonça conta que a música sempre esteve presente em sua vida e que foi um fator relevante para a sua formação como ser humano: "a música é a máxima expressão dos sentimentos humanos. Através das partituras, esse sentimento ultrapassa gerações e nos faz entrar em contato com nós mesmos. A música me fez mais sensível, me ensinou a trabalhar em grupo, a ser persistente." A princípio, a música chegou a Christopher através de seus pais que também são apaixonados por música, mas foi graças ao reforço recebido nas aulas de música na escola, desde o ensino infantil, que a semente plantada pelos pais gerou frutos: "fiz aulas de canto, cantei em importantes corais em Belo Horizonte, inclusive o coral da Puc-MG", disse.

Christopher acredita que a música nas escolas é muito importante porque pode ser tão benéfica para os alunos como foi para ele. Além de se conhecer melhor e aprender a conviver melhor em grupo, Chirs fez amizades e encontrou o seu talento.

O guitarrista Gustavo Lacerda acredita que houvessem aulas de música no seu tempo de colégio poderia ter sido influenciado a começar a estudar música mais cedo e até criado interesse por outros instrumentos ou músicas. "Acredito que poderia ter sido uma vantagem para a minha vida musical, não como guitarrista, mas como músico mesmo", acrescentou.

Com relação ao ensino de música nas escolas, a preocupação de Gustavo é para que a música seja trabalhada de maneira correta: "Não adianta colocar uma matéria com o nome de 'Música' e não trabalhar a música direito com os alunos, dando instrumentos que vão ser apenas brinquedos. A música nas escolas deve ser levada a sério, colocando os alunos em contato com a música. Como a erudita e a popular brasileira que mal são valorizadas por nós brasileiros."

(foto de reco-reco, retirada da internet)
No colégio de Rogério, as aulas de música eram ministradas por uma professora formada em música, mas como ressalta o jovem, os alunos não se adaptaram muito bem a essa cultura: "lembro que muitos colegas não gostavam das aulas, acredito que porque a gente era muito novo e não estávamos acostumados com a disciplina exigida. Ficam também as boas lembranças, nas aulas tivemos contato com instrumentos que não encontramos todos os dias, como o reco-reco".


Tanto Christopher quanto Rogério são jovens que gostam de música e valorizam o contato que tiveram com a música como forma de enriquecer a cultura e também de entretenimento. Gustavo era estudante da faculdade de Música da UEMG no curso de Licenciatura em Educação Musical Escolar, mas não se identificou com o curso e prestará vestibular para o curso de Bacharelado em Música Popular na UFMG. Hoje, trabalha dando aulas particulares de violão e guitarra e tem a banda Charlie, que é cover do Red Hot Chili Peppers.

Além desses jovens, a música também fez a diferença na vida da aposentada Yeda dos Reis. Ela conta que sempre gostou de música, mas que só teve a oportunidade de entrar em um coral depois de adulta: "foi uma experiência fantástica. Estar ali (nas aulas de música do coral) fez com que eu me sentisse mais jovem. E acabei encontrando também uma ótima forma de aliviar o estresse do dia a dia". O contato com a música também trouxe a Yeda novos amigos, que se tornaram também companheiros de viagem e de outros momentos de lazer. "O bom da música é que ela não tem idade. E é ainda melhor para aqueles que poderão começar mais cedo, com essas aulas que os jovens terão nas escolas. Acho ótimo", acrescentou.